O Hospício de Muskov: Antologia de Contos e Memórias [Editora Wish]

Oi, pessoal! Estou de volta com uma resenha para um livro nacional: O Hospício de Muskov: Antologia de Contos de Memórias, organizado por Tyanne Maia e Valquíria Vlad! 🙂 Como o blog aqui é originalmente escrito em Inglês, publiquei primeiro a resenha em inglês e agora vamos de português!

Construído em 1812, o Hospício de Muskov trouxe sofrimento para seus pacientes, médicos, enfermeiros e vizinhos por 133 anos antes de seu colapso, durante a Segunda Guerra Mundial. Nesta antologia ambientada em uma Rússia especialmente fria, 28 autores nos contam, através das memórias do Hospício de Muskov, alguns dos horrores e injustiças que seus pacientes viveram.

A única certeza sobre o Hospício de Muskov, desde a inauguração até seu declínio, é que nenhum humano está à salvo de sua insanidade.

Eu depois de terminar esse livro:

Apenas lembrando que essas foram as minhas impressões e opiniões como leitora =)

O Hospício de Muskov está longe de ser uma antologia comum. A seleção de autores, no geral, foi excelente, já que, mesmo que os contos (ou capítulos) e estilos de escrita fossem diferentes, a essência do livro se mantem – tanto que a linha do tempo que nos é proposta se torna totalmente natural. Escolhi cinco dos meus nove contos favoritos, classificados com 5 estrelas para explicar um pouco mais sobre meus sentimentos com esse livro.

Fato interessante sobre minhas avaliações individuais para cada conto, antes de nos aprofundarmos: foram 9 contos classificados como 5 estrelas; 6 contos que alcançaram 4 estrelas; 5 contos avaliados em 3 estrelas; seis contos que chegaram em 2 estrelas; e dois contos que simplesmente não eram o meu estilo, então infelizmente ganharam apenas 1 estrela. Para uma antologia, a classificação geral foi um sucesso! =D

Como cada “capítulo” é um conto diferente, os estilos de escrita e pontos de vista diferem bastante ao longo do livro, e isso inclui os estilos de narrativa e personagens. Nós temos capítulos focados nos antecedentes dos pacientes, médicos, enfermeiros, visitantes, pessoas normais e loucas. A mesma “classe” de personagens, por assim dizer, não é sempre vilã ou heroica, e isso foi um grande trunfo para mim. A natureza humana em si é cruel, e a época e o loca eram perfeitos para aqueles que não se importavam em realizar experimentos com o sofrimento dos outros.

No tamanho, a maior parte dos contos ficou com o tamanho entre 4 e 5 páginas, provando que você não precisa escrever muito para ter o leitor na palma da mão. O primeiro conto que escolhi como destaque, “Alma Insana”, de Poliana Marques, se passa em 1832 (20 anos depois da inauguração do Hospício), tem apenas 4 páginas e me deixou completamente sem fôlego. SÉRIO. A história aborda o casal Kuznetsov, que é forçado a internar seu filho mais velho, Ethan, quando sua filha desaparece. Uma palavra para descrever a obra: ARREPIOS.

Mergulhando mais nos tipos de personagens que o Hospício de Muskov nos apresenta, eu gostaria de introduzir o conto “Celese”, ambientado em 1906, e escrito por Marina Avila, que também é responsável pela capa maravilhosa que o livro tem. Nós somos apresentados a essa moça, Celese, cujo único pecado foi amar aprender. Ela ousou estudar e focar em sua carreira, desenvolvendo suas próprias teorias sobre a existência humana. Ameaçados por suas ideias, que não estavam exatamente alinhadas com a religião das massas da época, os próprios professores de Celese na Universidade de São Petersburgo providenciaram sua estadia no Hospício de Muskov.

Esse livro também traz aos leitores os roteiros clássicos, em que o paciente não significada nada para o Hospício e apenas a morte podia salvá-los. Sob esse aspecto, meu conto favorito é ambientado em 1902, escrito por J. M. Menez. “A Dama de Duas Faces” nos apresenta a Eleni e Anya, duas mulheres distintas que desafiaram o sistema de Muskov e se libertaram de sua dor de uma forma brutal e chocante. Não teve um momento em que o dito “tratamento” foi aplicado para ajudá-las.

Também temos histórias com pessoas que estão cientes das próprias doenças, mas em um estágio já muito avançado para serem curadas com o conhecimento disponível na época. Meu destaque vai para o conto “Os Dezesseis Reflexos de Maria”, de IAPSA, ambientado em 1940 – apenas cinco anos antes da destruição do Hospício de Muskov. Desde o começo, fica claro para o Dr. Baryshnikov que Maria realmente sofre com sua condição psicológica, mas ele se recusa a acreditar que não há nada que possa fazer para ajudar a tratá-la. Com alguns pensamentos considerados modernos para a época, Dr. Baryshnikov acha que submeter Maria aos tratamentos “clássicos” de cadeira elétrica e cirurgias cerebrais é uma perda de tempo dos médicos e da saúde da paciente. No final, ele é obrigado a aceitar que Muskov não está preparada para curar Maria de sua doença e decide ajudá-la de outra forma.

A todos que chegaram até aqui: você é incrível. E prometo que eu cheguei no último conto de destaque, ambientado em 1911: “A Vidente Vangelia”, de Rodrigo Ortiz Vinholo. Vangelia chegou ao Hospício de Muskov depois de compartilhar uma previsão de futuro infeliz sobre o filho do chefe de sua vila. Como a má sorte do rapaz se confirmou, as mesmas pessoas que antes procuravam-na pedindo respostas para um futuro incerto agora chamavam-na de bruxa. Sem nenhum vestígio de distúrbios mentais, Vangelia logo tem todos os funcionários do Hospício na palma de sua mão, atraindo-os pelo medo do desconhecido direto para seus planos. Definitivamente, o melhor conto do livro.

O único lado negativo da antologia, e a também a principal razão por trás da maior parte das minhas avaliações de 2 estrelas, é como alguns dos autores focaram apenas em elementos de roteiro envolvendo abuso sexual. Não me entendam mal: sei que acontecia muito mais do que imaginamos. Pacientes em hospícios eram pessoas vulneráveis mesmo quando estavam sãos, pois ninguém acreditava neles, mas me incomodou a forma como isso foi abordado por alguns autores: como se os profissionais que trabalhavam nesses locais entre o final do século XIX e início do século XX apenas pensavam em abusar dos pacientes. De novo: sim, acontecia muito mais do que qualquer um admite, tanto com homens quanto mulheres internados nesses lugares. E não, não há problema algum em abordar uma situação histórica real em um conto. É sobre como pode ser feito.

Curiosamente, a frase que selecionei para ilustrar essa resenha não é de nenhum dos meus contos favoritos, mas são palavras que resumem o que é a alma dessa antologia:

“Ele dizia que não encontraríamos a loucura na grande tragédia. Não. A queda da cidade, o terremoto, o incêndio, o fracasso de um grande amor ou mesmo a morte, não levavam o homem para o hospício. A loucura, segundo ele, está escondida numa legião de trivialidades do cotidiano, nos contratempos acumulados, naqueles momentos que a vida parece conspirar particularmente contra nós: um botão que arrebenta quando estamos sem tempo, o dedo que encosta na chaleira quente, a goteira que nos acorda à noite, a cobrança da conta que esquecemos de pagar, a criança que choraminga no quintal ao lado, a tinta que acaba no final do texto urgente. É lá, na última pequena gota do copo, que reside o inferno.”

– Os Sigilos do Amanhã, Caesar Charone, pág. 140

Eu mencionei antes que eu AMEI essa capa desde o começo, mas vale muito a pena dizer de novo! Eu amei como os detalhes em cobre balanceiam a sensação de arrepio que o prédio obscuro traz. Eu particularmente amo tudo o que brilha, então essa capa tem a minha aprovação completa!

Também PRECISO destacar o design e diagramação dentro do livro: temos ilustrações no início de cada conto, fotos ilustrativas em todos os lugares certos e um sumário incrível. Mesmo se eu não gostasse do tema da antologia, é o tipo de livro que eu compraria apenas por ser lindo!

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Se você é fã de horror, suspense, terror, histórias curtas, ficção histórica, reviravoltas sobrenaturais, livros ambientados em hospícios ou de explorar o lado obscuro da história dos cuidados da saúde mental, você precisa desse livro na sua vida!

Muito obrigada por ler esta resenha! Eu me deixei levar demais, você praticou um ato heroico ao chegar até aqui! Abaixo, te deixo com mais informações técnicas sobre o livro e onde encontrá-lo.

O Hospício de Muskov está disponível tanto em brochura quanto em ebook! Eu comprei o meu exemplar direto do site da Editora Wish.

Editora Wish | Amazon | Skoob | Martins Fontes

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Com amor,

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